quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Baixas civis em Gaza: a verdade é muito diferente

Por Richard Kemp*

Coronel Richard Kemp

     Todo mundo agora que ser mais entendido de Oriente Médio do que os próprios habitantes da região. Pessoas sem um pingo de conhecimento, postam "opiniões", como se fossem experts em assuntos internacionais. Esse post e os que seguirem após esse, não são minhas opiniões, mas de especialistas e pessoas que estão envolvidos diretamente com o conflito ou já viveram de perto essa realidade, como o Coronel Richard Kemp, que passou a maior parte de seus 30 anos de carreira no Exército Britânico comandando tropas na frente de combate em luta contra o terrorismo e a insurgência em focos de crise, incluindo o Iraque, os Bálcãs, o Sul da Ásia e a Irlanda do Norte. Ele foi comandante das Forças Britânicas no Afeganistão em 2003. De 2002 a 2006, dirigiu o grupo de contra-terrorismo internacional na Comissão de Inteligência do Gabinete do Primeiro-Ministro Britânico. Bom penso que ele sabe muito bem o que fala.

      "Com raras exceções, repórteres, comentaristas e analistas aceitam sem questionamento as estatísticas sobre as baixas fornecidas pelas autoridades médicas controladas pelo Hamas em Gaza, que atribuem todas as mortes às Forças de Defesa de Israel (FDI). Nunca se vê um sinal de combatentes mortos ou feridos. Análises dos detalhes sobre as baixas divulgados pela Al-Jazeera, com base no Qatar, indicam que a grande maioria daqueles que foram mortos em Gaza são homens jovens em idade de combate; não mulheres, crianças ou pessoas idosas. A morte de todos os civis palestinos nesse conflito resulta, em última análise, da agressão dos terroristas de Gaza contra Israel, e do uso que o Hamas faz de escudos humanos - a mais importante plataforma da política de combate do Hamas.

        "Então, você está indo atrás de civis inocentes ou trata-se de incompetência, coronel Lerner?", pergunta a entrevistadora, tendo seu rosto contorcido pelo desprezo aparentemente reservado apenas para israelenses. Esse tom penetrante de desrespeito, proferido diante de um oficial americano ou britânico, alienaria os espectadores e, diante de um comandante árabe, provocaria acusações de racismo. Esta linha de questionamento, repetida diariamente nas redes da mídia,  trai uma ingênua e incompreensível disposição para crer, e encoraja os espectadores a crerem, na noção absurda de que as Forças de Defesa de Israel são comandadas e compostas de alto a baixo por psicopatas assassinos de crianças. Sugerir que a incompetência militar seja a única explicação para as mortes de civis, além do deliberado assassinato em massa, revela uma ignorância de tirar o fôlego,  mas não surpreendente, das realidades do combate.

      Embora raramente tenham permissão para completarem uma única sentença, as tentativas dos israelenses de explicarem as políticas de alvejamento das FDI são inevitavelmente rejeitadas como mentiras deslavadas. A verdade é muito diferente. As FDI têm desenvolvido as mais abrangentes e sofisticadas medidas para minimizar as mortes de civis durante os ataques contra alvos militares legítimos. O uso obrigatórios de sistemas de inteligência multissensorial e de segurança, para confirmar a presença ou ausência de civis, precede os ataques em todos os alvos vistos do ar. Mensagens de texto, chamadas telefônicas e mensagens por rádio em árabe avisam os ocupantes para evacuarem aquela área. Folhetos são lançados do ar e incluem mapas mostrando onde estão as áreas de segurança. Quando os avisos são ignorados ou não são percebidos, aeronaves jogam explosivos não-letais para avisar a população que um ataque acontecerá em breve. Somente quando pilotos e controladores do vôo têm certeza de que os civis estão fora do alvo é que é dada a autorização para atacar. Quando os pilotos usam munições dirigidas por laser, eles devem pré-designar áreas de segurança para onde desviar os mísseis que já foram disparados, caso apareçam civis repentinamente.

           Forças de terra têm procedimentos de combate equivalentes, embora a natureza do combate no solo implica que este é mais direto e menos sofisticado. As discussões com os homens da infantaria das FDI, recém-chegados da fronteira com Gaza, confirmam, entretanto, que evitar a morte de civis está predominantemente em suas mentes, mesmo quando eles próprios estão debaixo de fogo. Entrementes, de volta à segurança do estúdio, a visível fúria da entrevistadora contra o porta-voz das FDI sobrepuja a objetividade profissional:

 "Vocês ficam falando interminavelmente sobre todos os avisos que dão, mas o fato é que mataram mil e quinhentas pessoas, senda a maioria esmagadora composta por civis!".

          Evidentemente o coronel não tem permissão para dar uma resposta adequada, que poderia ajudar os espectadores a entenderem a realidade da situação. Com raras exceções, repórteres, comentaristas e analistas aceitam sem questionamento as estatísticas sobre as baixas fornecidas pelas autoridades médicas controladas pelo Hamas em Gaza, que atribuem todas as mortes às Forças de Defesa de Israel (FDI). Há alguém em Gaza morrendo de causas naturais? A execução em massa dos "colaboradores" e de civis mortos por mau funcionamento dos foguetes do Hamas, é sempre atribuída ao fogo das FDI. Será que a "maioria esmagadora" dos mortos é mesmo composta por civis? Pareceria que sim. Vemos uma grande quantidade de filmes grotescos e aflitivos de mulheres e crianças mortas ou sangrando, mas nunca vemos nada sobre combatentes mortos ou feridos. Tampouco os repórteres questionam ou comentam sobre a completa ausência de mortes dentre os combatentes de Gaza, um fenômeno extraordinário, exclusivo desse conflito. A realidade é, logicamente, que o Hamas faz grandes esforços para esconder a morte de seus militantes para preservar a ficção de que Israel está matando somente civis. Há também crescentes indicações de que o Hamas, através de força direta ou de ameaças, está impedindo jornalistas de filmarem seus combatentes, estejam estes vivos ou mortos.

         Não chegaremos à verdade enquanto a batalha não terminar. Mas sabemos que o Hamas deu ordens a seu povo para reportar todas as mortes como se fossem de civis inocentes. Sabemos também que o Hamas tem um sólido histórico de mentiras sobre baixas. Depois da Operação Chumbo Moldado, os combates de 2008-2009 em Gaza, as FDI estimaram que dos 1.166 palestinos mortos 709 eram combatentes. O Hamas, sustentado por várias ONGs,  afirmou que apenas 49 de seus combatentes haviam sido mortos, e que os restantes eram civis inocentes. Muito tempo depois, foi obrigado a admitir que as FDI tinham falado a verdade o tempo todo, e que entre 600 e 700 mortes haviam sido, de fato, dos combatentes. Mas a mídia de memória curta é incapaz de ponderar sobre isto antes de divulgar amplamente suas afirmativas erradas e inflamadas. Análises dos detalhes sobre as baixas divulgados pela Al-Jazeera, com base no Qatar, indicam que a grande maioria daqueles que foram mortos em Gaza são homens jovens em idade de combate; não mulheres, crianças ou pessoas idosas. De acordo com um analista, a despeito de representarem 50% da população, a proporção de mulheres entre os mortos é de 21%. Análises preliminares, feitas pelo Centro Meir Amit de Inteligência e Informações Sobre Terrorismo, sugerem que 71, ou seja, 46,7% dos primeiros palestinos mortos eram combatentes, e 81, ou seja, 53,3% eram civis não-envolvidos.

       Nenhuma dessas análises é definitiva. Mas elas lançam dúvidas sobre as acusações de ataque indiscriminado contra a população pelas FDI e sobre as estimativas da ONU,  divulgadas amplamente como fato pela mídia e pelas não exatamente imparciais Nações Unidas,  de que 70% a 80% das baixas palestinas foram de civis. Não obstante, tragicamente, muito civis inocentes foram mortos. Como isto aconteceu, se as medidas das FDI tinham como objetivo diminuir o número de tais mortes? Comandantes das FDI dizem que nunca abrem fogo intencionalmente contra alvos nos quais civis não-envolvidos estão presentes, uma política que vai muito além das exigências da Convenção de Genebra. Esta política tem sido confirmada a mim por soldados no campo de batalha e por pilotos de F16 realizando ataques sobre Gaza. Mas, erros acontecem. Vigilância e inteligência nunca são infalíveis. Tem havido relatos de que o Hamas força civis a voltarem para os prédios que foram evacuados. Às vezes, há efeitos inesperados dos ataques, por exemplo, quando desmorona um edifício adjacente, no qual havia civis, o que é freqüentemente causado por explosões secundárias das munições do próprio Hamas, armazenadas no local. Erros podem ser cometidos na interpretação das imagens, na passagem de informações, e na entrada de dados sobre o alvo. [...] Às vezes, sistemas de direcionamento de armamentos funcionam mal e bombas, balas e mísseis podem atingir lugares que não deveriam. Mesmo os sistemas de comunicação mais avançados tecnologicamente podem falhar em momentos críticos. Em nenhum lugar esses erros são mais freqüentes e catastróficos do que em combate no solo, onde os comandantes e os soldados experimentam o caos, o barulho, a fumaça, o medo, a exaustão, o choque, a mutilação, a morte e a destruição, que estão além da compreensão de nossa entrevistadora, em seu estúdio de TV com ar condicionado.

          Esses erros e maus funcionamentos acontecem em todos os exércitos e em todos os conflitos. E, em todos os conflitos, os erros incluem a morte de soldados pelo fogo amigo. Será que aqueles que condenam a morte de civis palestinos como atos deliberados das FDI sugerem que os incidentes de fogo amigo em Gaza também são intencionais? Contudo, é provável que a política israelense de não atacar alvos nos quais civis estejam presentes seja deliberadamente posta de lado em uma situação específica. Se as tropas estiverem debaixo de fogo letal a partir de uma posição do inimigo, as FDI têm direito de atacar o alvo mesmo tendo certeza de que civis serão mortos, sujeitos que estão às regras usuais de proporcionalidade. Por definição, as vidas dos soldados israelenses estão colocadas em um risco maior pelas regras restritivas do combate com a intenção de minimizar as mortes de civis. Mas os comandantes no campo de batalha devem equilibrar suas preocupações pelos civis com a preservação das vidas de seus próprios homens e a efetividade da luta. À parte dessas realidades, a morte de todos os civis palestinos nesse conflito resulta, em última análise, da agressão dos terroristas de Gaza contra Israel, e do uso que o Hamas faz de escudos humanos,  a mais importante plataforma da política de combate do Hamas.

Um comandente militar do Hamas relata na TV palestina (assista aqui) como as forças israelenses o alertaram com antecipação para que evacuasse sua casa antes que ela fosse bombardeada. Ele prossegue, descrevendo como, após o alerta, correu para juntar amigos, familiares e vizinhos no topo do edifício.
Escudos humanos palestinos aglomerados sobre edifícios a respeito dos quais a Força Aérea de Israel tinha dado avisos antecipados de bombardeio iminente.

     Guardar armas e abrir fogo com elas dentro de áreas densamente povoadas, forçar civis a permanecerem num determinado lugar quando foram avisados para sair, atrair as forças israelenses para atacarem e matarem seu próprio povo, mostra que o número de vítimas palestinas é vital para a guerra de propaganda do Hamas, que tem por objetivo pressionar Israel e incitar o ódio contra Israel e anti-semita em todo o mundo. Esta exploração doentia do sofrimento de seu próprio povo e a cumplicidade da mídia nessa exploração não poderia ser mais cinicamente demonstrada do que nas salas de emergência da Faixa de Gaza. Sem a menor consideração pela higiene necessária no salvamento de vidas, ou pelo cuidado, privacidade e dignidade dos feridos, os militantes palestinos empurram entusiasticamente as equipes de filmagem para dentro das salas de emergência à medida que os cirurgiões, desesperados, lutam para manter a vida de uma criança ensanguentada.

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